o familiar aperto no peito, o já esperado nó
em que me enrolava a garganta,
a dor angustiante que me toldava a alma.
Todo o corpo entorpecido e,
por entre rasgos de lucidez,
, a raiva das palavras de conforto
e o abrasar dos olhares de piedade.
Não aguentava mais, tinha de sair,
projetei-me porta fora, arrastando a longa
cauda branca em direção ao mar.
Deixei-me cair na areia molhada, sentindo o torpor
dos sentimentos abandonar-me e as lágrimas
queimarem-me nos olhos, para no fim se reunirem
à água fria e salgada do oceano.
Não conseguia respirar, asfixiada pela dor,
pela sensação de ver arrancado do meu
peito o meu coração a bater.
Como seria feliz se o tivessem
levado, se o tivesse deitado fora;
como seria feliz se me tivessem
privado da capacidade de sentir.
Mas colocaram-no de novo cá dentro,
amolgado e maltratado por quem o teve nas mãos,
sensível a todo o ardor do desgosto,
inflamado pelas feridas que lhe infligiram.
A água ensopava o meu vestido branco,
dando-lhe uma nova tonalidade de marfim,
gelando-me os ossos a cada nova vaga.
Ali, apenas entre o restolho
das ondas e os soluços calados,
só eu sabia a dimensão do meu sofrimento,
do tamanho da vastidão do azul à minha frente.
Nada mais me restava a não ser a mágoa
incandescente que ensombrava a minha vida.
Deixaste-me sozinha, abandonada no mundo que era teu,
levando contigo todo o meu desejo e esperança.
Mas não te odeio. Não posso odiar
o meu carcereiro dos dias felizes.
Deste-me a felicidade e este foi o preço
que paguei, um preço que não considero alto
pela paixão que me trouxeste, pois trocaria
um só dia desse amor por uma vida inteira.
E que bem que eu amei, todos os dias me
fizeste apaixonar-me de novo, e nesses tempos
fui verdadeiramente feliz. Tudo me é cobrado agora.
A minha alma pelo teu amor parece-me um preço justo.
Lentamente entrei na água, rodeada do maravilhoso
tecido rendado, o véu ondulando ao vento.
Senti-me mais leve, as lágrimas já não ardiam nos olhos,
a respiração mais controlada, suspirei.
Ficou apenas o aperto no coração e o
torpor da água salgada a invadir-me os pulmões.
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