"Não se descuide de ser alegre - só a alegria dá alma e luz à Ironia, à Santa Ironia - que sem ela não é mais que uma amargura vazia." - Eça de Queiroz

segunda-feira, 27 de março de 2017

Nostalgia (por João Campos)

Esta nostalgia mata-me por dentro;
Corre-me nas veias de tal forma que é
Impossível de a segurar.
Mas prefiro que ela escorra sem dó nem piedade.
O que me vai acontecer?
Será que estou preso ao passado, ou será que estou retido nele?
Não sei. Uma profunda desordem e desassossego atravessa a minha Mente
Como uma corrente de um rio que desagua no Atlântico.
Esta sensação corroí-me por fora,
De tal forma que já nem pareço o mesmo.
Espero um dia voltar ao presente e pensar no futuro,
Com a minha alma renovada e centrada naquilo que é mais importante.

quinta-feira, 23 de março de 2017

De Plagis Hominum (por Vicente Carvalho)

Escrevi um poema e apaguei-o de seguida.
Apaguei-o porque o queria reescrever
e de seguida voltar a apagá-lo.
Por vezes é preciso recomeçar para sair
do buraco da perfeição e cair
novamente nas falhas;
por vezes é preciso perdoara mágoa
para podermos ultrapassar
a amargura e o esquecimento.
Ah, que transtorno horrível!
Voltei a rasurar mum poema meu!
Tenho que perdoar novamente mágoa!

quarta-feira, 22 de março de 2017

Inúteis, inférteis, rasgados, grotescos (por Marc Rodrigues)

Deixai-me dizer que sois um traço fino
e dormente na calada da noite obscura,
sem vontade, sem nascimento ainda,
sem expressão, num quadro sujo.
Sois jovens, bonitos, sonhadores,
Inúteis, inférteis, rasgados, grotescos,
de cera, de merda, de ódio, de cabeça
fechada, orgulho aberto e um tesão enorme
pela plasticização do mundo.
Achais graça à mutilação da vossa própria vontade,
caminhais nas ruas circulares do contentamento,
levais os bolsos cheios de desalento,
mas gostais das vossas calças bonitas.
E por isso, recusais a nudez.
Que problema há em andar nu?
Tendes medo que na vossa flor da pele
ainda não tenha tocado a primavera?
Deixai-vos de estações!
É tempo de tirar este comboio
da linha.
Eu não digo:
Vivam na margem.
Digo antes que não se esqueçam do fio de Ariadne,
porque os caminhos estão cheios de Minotauros
e pior.
Gostais da chama que tendes na palma da mão?
Lembrai-vos então da água que vos cerca,
evita a labareda e que vos fode.
E escolhei se isto é uma Elegia
ou uma Ode.