"Não se descuide de ser alegre - só a alegria dá alma e luz à Ironia, à Santa Ironia - que sem ela não é mais que uma amargura vazia." - Eça de Queiroz

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Bulício (por Pedro Maia)





Por vezes ainda me recordo de histórias que li sobre Jerusalém. Uma cidade que foi disputada por muitos países desde os egípcios até aos babilónios, de cristão até muçulmanos. De momento esta dividida entre Israel e a Palestina. O que é que Jerusalém representa para o mundo? Um centro de cultura. 
Estes dias vimos o presidente norte-americano Donald Trump a tomar decisões precipitadas e polémicas relativamente às capitais de outros países. Trump reconhece Jerusalém como capital de Israel. Com esta decisão, o presidente norte-americano, acaba de rebentar um barril de pólvora e instaurar o bulício que pode chegar ao ponto de haver uma rinha entre dois povos que apresentam diferentes culturas e, principalmente, diferentes religiões. Será que foi uma estratégia de paz? Ou será que esta a tentar reatar uma guerra entre a Palestina e Israel? Qual foi o objetivo desta decisão?
Os Estados Unidos pretendem reatar conflitos antigos, declarando inimizade com o Irão, tendo em vista o favorecimento de países como Israel e Arábia Saudita. A consequência deste conflito seria vista de bom modo pelos americanos pois haveria uma contenção de forças por parte do Iraque e do Irão. Os Estados Unidos pretendem rasgar o acordo nuclear com o Irão para que este possa enfraquecer e dar mais poder aos países que o rodeiam e são aliados dos americanos dando-lhes mais poder para os conter. Será que tem tudo haver com o petróleo? Tendo em conta que, uma das moedas de troca para o negócio do petróleo é a troca de armamento entre este países. Aqui neste mundo vale tudo, principalmente no que toca aos negócios. Para acrescentar que os grupos mais radicais como Estado Islámico ou existem por culpa dos países mais desenvolvidos, e é uma das consequências do facto de haver vendas desmedidas de armamento por parte destes mesmos países.
Mudando um pouco de assunto, gostaria de falar um pouco dos brejeiros que coordenam as instituições de caridade. Associações de caridade existem muitas, mas pelo que vejo, são poucas que cumprem o seu proposito que é ajudar. Estas organizações como a Rarissimas, têm como função ajudar as pessoas necessitadas , servir de intermediário para quem queira tomar a iniciativa de contribuir com algo ou alguma coisa, promover no sentido de chamar a atenção para a existencia de determinada problemática. E onde esta o problemas dessas associações? São as pessoas que mandam nessas instituições. Essas gentes que cometem atos opróbrios mancham a imagem dessas organizações, tornando-as vitimas da desconfiança das pessoas. Espero que sejam punidas severamente. Agora vem ao de cima a podridão a que esta sociedade esta subjugada.
Finalizando, acabaria este texto com uma citação de Camilo Castelo Branco: “O homem foi sempre mau; será mau até ao fim. A sociedade parece melhor do que foi olhada coletivamente: é parte nisto a lei, e, grande parte o cálculo. Cada indivíduo se constrange e enfreia no pacto social para auferir as vantagens de o não romper; porém, o instinto de cada homem, em comunidade de homens, está de contínuo repuxando para a desorganização. Eu aceito, como puros, os corações formados na solidão, a não se dar a segunda hipótese do provérbio, que disse: homem sozinho, das duas uma: ou Deus ou bruto.”

Triste Fado (por Cristiano Silva)






Espero que este pensamento sirva, pelo menos, para me conhecerem melhor:
Portugueses incumbidos de serem os verdadeiros carrascos de todas as  virtudes encontradas no povo glorioso que é o português.
Não houvesse sequer a hipótese de um dia não conseguirmos deixar o mas de lado e perceber que somos tão poucos e tão bons que estragamos todos os caminhos de glória por existir o nosso fado, aquele fado triste, melancólico que persiste na palavra mas.
Como somos capazes de não nos juntarmos em plena assembleia da República na memória de um português que revolucionou todo o mercado nacional, criou milhares de empregos e, sim, por mera e pobre ideologia patética política, renega-se a união de um povo que não sabe cuidar dos nossos e simplesmente afasta. Afasta e renega simplesmente as virtudes dos portugueses. 
Pobre fado, que durante dezenas de anos viveu na escuridão de uma ditadura e não sabe viver na luz da liberdade. Não compreende que temos que cuidar dos nossos e sermos mais responsáveis com a democracia. 
Quem somos? Os verdadeiros carrascos de nós próprios. 
Os mesmos que não conseguem encontrar virtudes em quem cria milhares de empregos são os mesmos que prestam vassalagem à leviandade de uns charros e umas passas em nome da cultura. Será que só seremos considerados excelentes se andarmos charrados? Mais, seremos e somos espezinhafos e acusados de fascistas se dissermos estas coisas. Não seria eu socialista e defensor da liberdade e da democracia. Mas ser socialista é ser irresponsável? Ser socialista é permitir que se preste homenagem aos charros e se vote contra a criação de postos de trabalho? 
Democracia infeliz e pobre esta. Governados por mero milhão quando somos, dizem alguns, dez milhões. Onde está a responsabilidade da democracia? Abstermo-nos de participar, simplesmente ignorar que o sangue da democracia é a participação. Mas será que existe alguém neste mísero país que seja valorizado por acreditar que os portugueses não são responsáveis? Não existe. Porque simplesmente preferem o silêncio das palavras ao confronto num ringue de lama. 
Acreditar que temos o melhor do mundo no desporto e ainda assim haver um mas… Mas que raio de mas que nos persegue e não consegue elogiar a eleição do ministro das finanças português. Mas haverá aqui associado ainda o síndrome da ditadura, que só permite vassalar os outros?
Não me façam acreditar que Portugal cada vez mais parece um travesti mal amanhado que em nome das leis bíblicas se esquece dos valores mais básicos de uma democracia, gratidão e solidariedade.

Estou Barado (por Cristiano Silva)

Paula Brito e Costa, Presidente da "Raríssimas"




Estou espantado com algumas reações sobre o caso da Raríssimas. Ora bem, não é uma instituição
privada? Não fazem o que quiserem do dinheiro?
Pois, é um tema demasiado complicado para analisar porque efectivamente o estado doou dinheiro à instituição e a partir daí eles fazem o que bem lhes apetecer. É assim que funciona. Há alguma lei que impeça isso? Não há. Mas devia haver.
Não é assim que funciona na maioria das associações e instituições parecidas ou iguais a esta em todo o país? Sim é.
Mas não precisamos de sair fora do concelho de V.N. de Famalicão para perceber que é assim que funciona. Mas há alguma instituição/organização/associação/clube que seja “fiscalizada” por algum organismo público para saberem onde são aplicados os dinheiros públicos que são doados a essas organizações? Não, não existe. E espanta-me este “estamos todos barados” com o que acontece na Raríssimas.
Não há uma associação em Famalicão designada Famalicão com Futuro que recebe mais de meio milhão de euros todos os anos que se dedica exclusivamente à criação de eventos e festas como as Antoninas e outras? Sim há. Não é essa mesma associação que desse dinheiro tira para o seu ou sua presidente o ordenado mensal? Pelos vistos é verdade.
Mas podemos continuar no concelho de V.N. de Famalicão. Os clubes/associações/organizações/instituições têm que justificar a alguma instituição pública para onde vão os dinheiros públicos que lhes são doados? Não. Só têm que apresentar contas aos sócios e com jeitinho esses dinheiros doados nem entram nas contas. Também já assisti a isso.
Já agora, os treinadores, jogadores e pessoal auxiliar que recebem dinheiro dos clubes desportivos declaram-nos às finanças? A maioria não. E porque não são obrigados a declararem?
Até há associações que recebem milhares de euros anualmente que nem porta aberta possuem. E esta heim?
Mas só por passar na TVI é que as pessoas ficam “baradas”?
Denunciei várias vezes estes casos no concelho de V.N. de Famalicão e ninguém ficou “barado”.
Mas já agora, estas instituições são obrigadas a justificarem para onde vai o dinheiro? Neste momento não. Estão a cometer alguma ilegalidade? Não sou jurista mas acho que não.
Deveria haver leis que obrigassem a justificarem? Sem dúvida.
Mas continuo ainda mais “barado”, por estarem todos “barados”.

Amanhã (por Diogo Santos)




Quero sentir tudo,
Mas não sinto nada.
Vejo nos outros o que quero em mim
Mas tenho em mim coisa nenhuma além
De pensamentos demasiados.
Ter noção que não se é capaz de tudo
E tão pouco de alguma coisa
É de uma inquietante paralisia.

Tudo se perde!
A voz é nada,
A palavra é nada,
O pensamento de nada serve,
As ações nada mudam!
E ainda assim disso tudo
Fazemos um pouco.
E mais vale fazer pouco
De tudo,
Pois é esse pouco que levamos.

Nada tem significado e no fim tudo acaba.
O que tem que se fazer foi imposto
Não se sabe por quem, nem há suspeitas.
Mas assim continua isto tudo
Escondemos o que não sabemos no sótão
E tentamos ter a casa arrumada para…..
…. para amanhã.

Sanctimonia Natalis (por Bruno Teixeira)




E o natal, essa doce quimera,
a quintessência nazarena
perdida no teísmo prosaico
de uma latinidade rebelde.

E esse espírito, nobre
sensação enraizada em corações
singelos que buscam deliciar
suas almas penitentes com o pão,
o corpo e o sangue do profeta.

E eis que, naquela tão augusta ceia,
surge o cálice que une todo o nosso amor;
o orgasmo de cristo, o prazer de madalena,
a libido do arcanjo, a dor da Virgem Maria,
o espanto de Santa Ana e o terror de Aarão.

E eis que, numa saudação celestial, o primogénito
ergue o seu tinto, e prega sobre a pesca do bacalhau;
e, engolindo o seu prego no prato, canta
os hossanas miraculosos ao seu pai, o senhor do céu.

A eternidade vale o preço da filantropia, esse
grande ex-libris do bom samaritano que, cheio de
amor para dar, ajuda o bebé que dorme na manjedoura.

E pelos vistos o ouro e a mirra também….
essa metáfora imperial do oriente que,
num eufemismo, procura o poder na humildade.

A Genialidade do Talento (por Joana Montenegro)




O homem talentoso é um artista, um ator insólito no cenário da vida,
O prodígio na manipulação da fecundidade de convicções,
Diligenciando um retrato de peculiaridade e originalidade,
Representando o seu papel com uma pena e com a sua alma de loucura.

Pintando os seus traçados na alvorada, na harmonia do seu lar,
O escritor reflete sobre a existência da sua vida, paulatinamente,
Através da encruzilhada dos seus olhares num esboço incompleto,
Burlando as imperfeições das suas obras, morosamente.

Terminando os seus rascunhos, debaixo duma luz transparente,
Encerra uma viagem pelos oceanos, repletos de histórias, de drama,
Realizando os seus sonhos, acendendo a flama dos seus escopos.

O talento é arma da riqueza da invulgaridade, exibindo uma riqueza refinada,
Rompendo com os estigmas relativamente aos artistas,
Homens apaixonados pela sua profissão de encantar o Universo.

Ao Contrário (por Vera Carvalho)




Eu tenho gasto tempo
Naquilo que não me faz bem,
Eu tenho tido sentimentos
Por quem está tão além

Tento pronunciar-me e ver
Onde é que me encontro,
Mas eu ando por aí sem saber
Onde está a minha alma. Aqui só está o corpo

Eu escrevo poesia sobre alguém,
Versos que alimentam o que estou a sentir,
Eu tento conformar-me que estou bem,
Mas ultimamente não tenho vontade de sorrir

Diz Pessoa que poeta é um fingidor
Mas aquilo que sinto é deveras profundo,
Que não dá para fingir esta dor
Que invade-me e tem impacto no meu mundo

Nós somos pessoas que gastamos tempo
Naquilo que não nos faz sentir completos,
Nós somos pessoas sem sentimentos
E que achamos que o longe é estar perto

Vivemos num mundo ao contrário
Em que o sentimento perdeu a importância,
Eu pergunto-me onde está o real mágico
Para trazer quem está a uma maior distância

Mas eu reparo que isto é o mundo real
E não aquele mundo de fantasia distante,
Eu reparo que só é realmente especial
Aquilo que não nos faz sentir importantes

Ao contrário está o mundo
As palavras minhas também,
À minha volta reparo em tudo
Mas não vejo eu ninguém

Deu para reparar que as palavras
Trocadas perderam em parte o sentido,
Assim como o mundo quando se trocava
Todos achavam que estavam perdidos

Então vale a pena ser ao contrário
Se realmente perdemos parte de nós?
Achamos que assim é que é mágico
Mas na realidade acabamos sós

Epigrama III (por Bruno Teixeira)





A vida é um carrossel de emoções
que nos faz girar em torno do nosso coração;
a felicidade é um conjunto de varões
que unicamente se guiam pela razão.

Epigrama II (por Bruno Teixeira)




Quando for grande, quero ser grande.
Quero ser tão grande como a estátua da avenida da cidade!
Quero ser grande porque quero ser grande e ser grande 
não é uma ambição demasiado grande para ser concretizada!

Epigrama I (por Bruno Teixeira)




Se algum dia eu morrer, quero pelo menos ser alguém.
Se algum dia eu morrer e minh’alma voar como uma gaivota,
quero sentir que toda a existência não foi alheia.
Se algum dia eu morrer, quero ser feliz antes do último suspiro.

Manifesto Frenético Quase Esquizofrénico (por Bruno Teixeira)





Sinto-me frenético esta noite!
Sinto uma enorme inquietação dentro de mim
que não deixa sequer o meu organismo sossegar!

Sinto vontade de fazer muita coisa e essa “muita coisa”
é tanta coisa que o meu cérebro nem aguenta
com este ritmo alucinante e quase esquizofrénico!

Sinto vontade de correr, saltar, falar,
gritar, rebolar, esfregar-me nas paredes,
escrever, deslizar na relva, esbofetear-me,
chafurdar-me nas poças de água da chuva,
voar, ladrar,chiar, lançar-me do sétimo andar….

O meu organismo não para!
É como se sentisse algum demónio a dançar dentro de mim!

Podia considerar-me um génio, mas não posso!
Os génios são apenas malucos e eu sou maluco e meio!

O mundo é e será sempre uma bola achatada
que se acha perfeita quando, afinal de contas,
é apenas pseudo-perfeita! Amén!

Deixem-me viver, por favor!
Deixem-me viver este turbilhão de ideias e emoções,
pois quero sentir todas as coisas deste mundo
a entrarem dentro da minha alma!


O meu cérebro é uma enorme indústria metalúrgica
que não para de produzir materiais metalúrgicos em série;
a minha alma é uma nação gigantesca
que apenas é alimentada pela matéria
produzida pela indústria e pela sua fusão de filiais.

O coração é um vasto povo que dá vida à indústria
com todas as suas capacidades cognitivas e motoras
e o estômago é a fonte geradora da energia derivada
das capacidades motoras e cognitivas do povo.

Portanto, deixem-me ser diferente!
Deixem-me saltar de um lado para o outro!
Deixem-me correr como um leopardo,
saltar como um canguru, rir como um palhaço,
chorar como um bebé, rastejar como uma cobra….

A minha racionalidade não pode ficar parada
assim como a atividade de uma nação não pode ficar suspensa!
Caso contrário, tal como Tróia, Atenas e Roma,
morro e desapareço para sempre!

Não preciso de aparecer nos comícios políticos juvenis,
ir à missa beijar os pés ao reverendíssimo senhor sacerdote,
ir à escola aprender a interpretar epístolas judaicas e epigramas latinos
e de ir ao médico curar as feridas e ir ao tribunal
falar em latim com o meritíssimo senhor juíz!

Apenas preciso de viver a vida, de observar o mundo
tal como ele é e de soltar gargalhadas!
Preciso de ser feliz tal como a vizinha do terceiro esquerdo que está sempre
a cantar as músicas que ouve no rádio que tem no seu carro! Amén!

Preciso de ser feliz porque este sentimento frenético obriga-me a ter tal necessidade;
tenho essa necessidade, pois esse tal ritmo frenético não para, ou seja,
começa de manhã e dura até à noite através de uma violência que
me impõe frequentemente uma vontade enorme de ser freneticamente violento,
aquela vontade de tudo fazer sem ter tempo sequer para dar um suspiro!

Amén! Amén! Amén!



O Estilo d'um Espírito Alienado (por Joana Montenegro)





O estilo do espírito cristalino apresenta um semblante cómico,
espirituoso, com uma força inabalável,
Uma postura rebelde perante as suas convicções, presente na sua felicidade,
Irradiada pela cor do brilhantismo da paixão pela Arte abstrata
E deslumbrado pela simplicidade dos pequenos prazeres.

Este, sedutor, pensando nas meras utopias, alimentando a sua fantasia,
Pondera sobre a essência da desobediência, a desordem da racionalidade,
A existência da vida expressa nas palavras sábias, duradouras
E no quão as mudanças podem ser as ondas turbulentas do caminho.

Devaneando sobre as suas vivências distintas, perdidamente,
Atenta-se na aragem repentina, fria, esmorecendo-se o seu rosto pálido,
Olvidado do encantamento das pétalas da mocidade.

Consciente do discernimento da finura que o dardeja,
Inopinadamente, é assombrado pela dureza dos seus passos
E pela sua diferença da atroz frivolidade.

Então, o espírito alienado, em vez de se vergar perante o declive dos muros,
Ostenta uma atitude de coragem, percecionando que a adaptação é fulcral
Num mundo em mudança, em que a diferença é um veículo de prosperidade.

Evasão (por Bruno Teixeira)






Perdido no meio da guerra,
Onde o céu é cinza
E as aves são misséis,
Percorro os caminhos
Sem ver o horizonte 
Onde o pastor passeia
Seus pequenos cordeirinhos.


Vagueando pela serra,
Perfumada pelo odor
Das cinzas das beatas
Que os lenhadores fumam,
Sinto o prazer e o amor
À essência que tanto me
Subtrai o ardor e o engenho
E a doçura da epifania,
Essa que me é tão amarga
Nas horas poéticas de puro lirismo.

E todo aquele encanto
Paira na minha alma repleta
De sentimento profundo,
De mágoa centrifugada
Pelas parábolas de um profeta
Que canta e prega ao velho mundo,
De caridade produzida pelo
Egocentrismo de um samaritano.

E todo o cântico heróico,
Enaltecido pelo choro de uma balada,
Fica eternamente gravado nos versos
De uma ode, numa esparsa interpolada
Que se perde na bucolia de um madrigal.

Corro numa rapidez quase supersónica,
Tentando fugir de toda esta mentira;
O som dos tiros e dos passos
Aproxima-se de mim com intensidade
Para impedir a minha evasão;
Memórias surgem em repetições
Do inconsciente, como se eu
Me tivesse esquecido delas.

E tudo me foge pelos dedos,
Como se fosse margarina ou óleo derramado,
Deslizando nos meus desejos mais crassos,
Cantando meus pensamentos mais sacrílegos,
Declamando o mote de uma triste canção.

Por mais profundas que as suas danças sejam,
Todo o monstro tem coração dentro de si próprio,
Todo o monstro tem alguém que ama.
Mas que faço no meio dos santos,
Eu, monstro parvo e inútil, que se diverte
A pensar e a amar pessoas que me ignoram
Enquanto tento não ser um monstro inútil?

Destino: A Riqueza da Incerteza (por Joana Montenegro)





O destino é incerto e indefinido como um pêndulo a balançar disformemente,
Inconstante em cada passo dado na monotonia da vida,
Dúbio nas suas convicções, apresentando um semblante insatisfeito
E apreensivo em arriscar, cismando no seu orgulho altivo bem como pretensioso.


Conservando a sua capa de sobranceria, pressentindo os receios à superfície do tino,
Encarcerado num egoísmo profundo, alçando o olhar sob o horizonte,
Esperando a redenção divina, o perdão das imperfeições dum passado remoto
E acarretando com os erros, naturalmente, erguendo a cabeça perante os obstáculos.

Após reerguer-se da profunda reflexão sobre as repercussões dos atos condenáveis,
Deve marchar e prosseguir no seu caminho, em direção ao brilhante pôr do sol,
Sem turbulência no seu barco à vela, com o motor transparente a brilhar
E exibindo um sorriso perante a alacridade que é a substância da vitalidade!

A incerteza do futuro e o volutear duma mente complexa, repleta de ideias,
Desfiguram a realidade, melindrosa na sua natureza,
Transmitindo o idealismo e os sonhos, presentes nos traços rabiscados e desalinhados com a existência dum presente e da futuridade vindoura,
Gerando um contra-senso produzido nas cabeças, pinceladas a branco e a cinzento!

Como uma criança (por Vera Carvalho)





Sou como uma criança feliz
Que vive da simplicidade,
Com uma lágrima no olho
Por ter medo da verdade

Mas sinto, sinto demais
O que não devia sentir,
Eu não encontro a minha paz
E por isso penso em desistir

Mas como uma criança
Mantenho a esperança,
Construindo uma aliança com a vida
Que me vai dando alguma confiança

Mas tal como uma criança
Eu tenho vontade de chorar;
E a inocência na dança da criança
Faz-me querer viajar

Pareço uma criança indecisa
De qual brinquedo deve escolher,
Mas sou uma simples poetisa
Que não tem nada para me preencher

A verdade é que o amor não vence
E não há contos cheios de fadas,
Não quero que a saudade me abrace
E me aqueça esta alma gelada

Mas como uma criança inocente
Que sabe com o que vai brincar,
Eu vou tornar-me diferente
E vou saber quem devo valorizar

Filosofando perdidamente nas horas vagas (por Joana Montenegro)





A filosofia é o devaneio dos artistas nas horas vagas,
A ociosidade dos pensamentos refletidos numa lamparina iluminada
E a arca onusta de sabedoria, abundante de sonhos!
Esses sonhos, presentes na essência da retórica,
Teorizam a chama da arte do discurso
E clamam o desejo audaz dum espírito imaterial!
As palavras abstratas, exorando feições elegantes,
Demandam a manifestação da subjetividade,
Perdidas nas avenidas, repletas de Literatura e de esperança,
Rebeldes e almejantes por um Mundo mais humano!

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Á Beira-Mar (por Carolina Lopes)





Outra vez aquele sufoco que eu tão bem conhecia,
o familiar aperto no peito, o já esperado nó
em que me enrolava a garganta,
a dor angustiante que me toldava a alma.

Todo o corpo entorpecido e,
por entre rasgos de lucidez,
, a raiva das palavras de conforto
e o abrasar dos olhares de piedade.

Não aguentava mais, tinha de sair,
projetei-me porta fora, arrastando a longa
cauda branca em direção ao mar.

Deixei-me cair na areia molhada, sentindo o torpor
dos sentimentos abandonar-me e as lágrimas
queimarem-me nos olhos, para no fim se reunirem
à água fria e salgada do oceano.

Não conseguia respirar, asfixiada pela dor,
pela sensação de ver arrancado do meu
peito o meu coração a bater.

Como seria feliz se o tivessem
levado, se o tivesse deitado fora;
como seria feliz se me tivessem
privado da capacidade de sentir.

Mas colocaram-no de novo cá dentro,
amolgado e maltratado por quem o teve nas mãos,
sensível a todo o ardor do desgosto,
inflamado pelas feridas que lhe infligiram.

A água ensopava o meu vestido branco,
dando-lhe uma nova tonalidade de marfim,
gelando-me os ossos a cada nova vaga.

Ali, apenas entre o restolho
das ondas e os soluços calados,
só eu sabia a dimensão do meu sofrimento,
do tamanho da vastidão do azul à minha frente.

Nada mais me restava a não ser a mágoa
incandescente que ensombrava a minha vida.

Deixaste-me sozinha, abandonada no mundo que era teu,
levando contigo todo o meu desejo e esperança.

Mas não te odeio. Não posso odiar
o meu carcereiro dos dias felizes.

Deste-me a felicidade e este foi o preço
que paguei, um preço que não considero alto
pela paixão que me trouxeste, pois trocaria
um só dia desse amor por uma vida inteira.

E que bem que eu amei, todos os dias me
fizeste apaixonar-me de novo, e nesses tempos
fui verdadeiramente feliz. Tudo me é cobrado agora.

A minha alma pelo teu amor parece-me um preço justo.
Lentamente entrei na água, rodeada do maravilhoso
tecido rendado, o véu ondulando ao vento.

Senti-me mais leve, as lágrimas já não ardiam nos olhos,
a respiração mais controlada, suspirei.

Ficou apenas o aperto no coração e o
torpor da água salgada a invadir-me os pulmões.

Hoje perdi a noção (por Pedro Maia)





Hoje perdi a noção do tempo e da realidade,
Já não sei quem sou, nem sei quem devo ser,
Só sei que sou feito de carne e osso,
E que o tempo passa à velocidade da luz.

Deixei de ver a luz ao fundo do túnel,
Os meus olhos estão desfocados de uma realidade
Cada vez mais virtual, cada vez mais obscura.
Que é feito daqueles tempos idos?
Onde vivíamos um dia de cada vez,
Cada dia a seu tempo.

Hoje perdi-me nos meus pensamentos,
Fechado num mundo onde somos todos iguais
Cada um sendo quem é.
Sendo todos diferentes, mas ao mesmo tempo
Todos iguais.

Eu sei que ao descer, desço descalço (por Marc Rodrigues)





Eu sei que ao descer, desço descalço,
que o medo ergue-se em espinhos
e o degrau veste de escuro.
Eu sei que a verdade é um laço
bem feito de corda áspera,
em volta de um pescoço curioso.
Eu sei e adormeço num sono calmo.


Só para acordar num momento, pouco despertado
levantar e caminhar de corpo deitado,
procurar uma janela na parede escura,
tropeçar e cambalear no chão sonolento.

Sair à rua, dar de caras com um velho avarento,
que rosna sem ferrar e cospe no cimento
e afaga o pescoço que esconde com um lenço
e esconde no chapéu o rosto que talvez venha a ser meu
e desvia o seu olhar do rosto que talvez tenha sido seu.
Eu sei e acordo de um sonho agitado.

Levanto-me, banho-me, penteio-me, visto-me
engano-me, dispo-me, volto a vestir.
Dei por mim e o tempo passou, uns minutos.
Mas quantos não são a vida toda?
Eu sei e continuo numa vida calma.

Abro a porta e saio.
Eu sei que ao descer, desço calçado,
que o degrau é de madeira de pinho
e a clarabóia cobre-o de luz.
Mas não deixo de sentir espinhos
cravados nos meus pés nus.

Madrigal (por Bruno Teixeira)





A primavera da vida
expressa num quadro que
o artista, perdido numa alma
criadora, pinta, sem pincel,
linhas infinitas de sabedoria.

E o cântico da frescura
dos seus verdes anos, escrito
sob as oitavas de belos madrigais,
enaltece o doce encanto d’uma
écloga circulando pela natureza.

E, entre as tintas da imaginação,
surge uma obra de arte que, forjada
a partir da artificialidade d’um soneto,
voa por entre as estrelas e um luar
perdido na jovialidade do meu ser.

E uma criança, pura e inocente
e aos olhos d’uma mãe encantada,
tece seus passos pelo jardim
das suas memórias doces e amargas
rumo a uma mocidade cordial.

Poema Imortal (por Bruno Teixeira)





Lembras-te de quando nós éramos mais novos?
Lembras-te daqueles passeios pelos jardins onde chovia algodão branco?
Lembras-te ….. Se calhar não te lembras.

Éramos tão novos que todas as intermináveis êxtases que percorriam o nosso universo interior
estão agora sepultadas num jazigo sumptuoso.

Crescemos depressa! Crescemos com o objetivo utópico de alcançar a perfeição
e de sermos tão perfeitos como Deus, pois Deus criou o mundo em sete dias.

Descobri que isso era simplesmente impossível!
É impossível, pois rapidamente mataríamos Deus
e perderíamos no nosso propósito de alcançar a perfeição!
Tudo seria aborrecido!

O céu é azul, as nuvens são brancas, a relva é verde
e o sangue que atravessa o nosso corpo é vermelho;
o pensamento é inevitavelmente inútil quando se busca a perfeição
e o conformismo é apenas o chão que nos segura!

Sou mortal! Sou tão mortal que até chego a tornar-me imortal! (metaforicamente falando….)
Contudo, sou mortal e só isso interessa!

Sou mortal, porque o verdadeiro significado da palavra não me deixa ser o contrário.
Sou um homem e ser homem é ser um homem como todos os outros!
A isso nunca irei fugir. A isso nunca irei fugir!!!!

Nunca irei fugir, porque isto corresponde a uma verdade tão brutal
que essa própria verdade me esmaga contra uma parede de betão
como se para universo eu fosse apenas uma simples mosca.

Ouviste, camarada! Somos apenas moscas no meio de um universo cósmico!!!!
E é essa a grande verdade…..uma verdade pura e singela…..
……tão pura e singela como o ar que respiramos.

As flores despertam do seu sono (por Joana Montenegro)




As flores despertam do seu sono placidamente,
Na matina sóbria e lúcida,
Libertando-se da escuridão que as cegam,
Deixando a máscara da infelicidade!

As flores, reerguendo-se da melancolia,
Balançam ao som da melodia da brisa do mar,
Aproveitando o despojamento da franqueza,
Recuperando a sanidade harmoniosa.

As flores, tingindo-se da sua ventura,
Desfrutam da sua ingenuidade,
Livres das correntes que as aprisionaram,
no tempo da negridão!

As flores, esses seres puros e belos,
Aproveitando a frugalidade da vida,
Rodopiam nos seus movimentos desalinhados,
Sentindo as vibrações da leveza dos seus passos!

Sarcasmos Irónicos (por Joana Montenegro e Bruno Teixeira)




O sarcasmo da alegria, a ironia da tristeza,
todo o riso de uma essência perdida
em fábulas de puro encanto e desengano.

E eis que toda a alma do doce devaneio se
desvanece na mente sã de um pensador decadente…

E eis que os versos de uma esparsa, brilhando
em cada escansão métrica, canta a virtude
e a prudência de um coração puro e jovial.

Poetas e prosadores, em devaneios líricos
e prosaicos, cantam seus sonhos mais
loucos em torno da fogueira em que ardem
os cavaleiros da velha e metuenda ordem.

Em cada verso a nova mocidade,
e em cada rima a ideia rejuvenescida;
em cada palavra o sorriso
e o encanto da nova era.

E os génios (ou as almas que já não têm)
permanecem serenos em cada ritmo, cada melodia
que da musicalidade e do lirismo emana.

E os mestres cancioneiros, pura delícia
da arte clássica, choram suas lágrimas
nas estrofes das suas elegias e éclogas.

E essa literatura mundana,
que acalenta a alma dos poetas,
é heterogénea, livre como uma pena;

É fluída como uma bailarina
no seu pleno movimento astral,
a Arte na mais singela pluralidade.