"Não se descuide de ser alegre - só a alegria dá alma e luz à Ironia, à Santa Ironia - que sem ela não é mais que uma amargura vazia." - Eça de Queiroz

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Espelho meu (por João Campos)

Sempre que olho ao espelho vejo um reflexo;
Um relâmpago, uma sombra de uma personagem desconhecida;
Um vulto, mais diferente a cada dia que passa;
Cultivando as migalhas que semeou em tempos idos.
Oh, espelho maldito e amaldiçoado;
Autor do narcisismo, provocador de sofrimento e tentação;
Revelador de verdades, torturador de mentes frágeis;
Enganador e ilusionista e deturpador da imagem inventada.
Para que serves tu afinal?
Se não me contas nada, se não me dizes o que pensas;
Fala sua criatura parasita e doentia!
Mostra o que pensas sem falsidades e fantasias irrealistas.
Aquele individuo do outro lado daquele vidro cruel;
Condenado a mil anos de prisão;
Tenta dissuadir-me a não cair na tentação;
Mas em vão.
Enfim, vida a minha;
Que irei eu fazer neste silêncio maligno;
Para que a minha alma inocente;
Não entre num desespero desumano?

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